segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Menina

Ana Graziela Cabral

De quem é perfeição, velado ouro
Falo em versos confessos de espanto:
O poeta se esconde em mau agouro
Atribui elegia a todo canto.

Não me chore por falta de palavras
Não lamente a ausência do teu verbo
Nas fissuras da dor o tempo crava
Muita urgência em exaltar teu ego.

És chorosa garganta que lamenta
Ruidosa consciência que rumina
És poesia em face de menina.

Belo Horizonte, 12 de fevereiro de 2009.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009




As coisas e os lugares das coisas

Ana Graziela Cabral

No abrir da rosa, espanto
No fechar da porta o pranto

No outeiro aponta o cimo
No caule da planta, limo

Na varanda a chuva fina
No porão, penumbra prima

Na fogueira a cinza chama
No horizonte, linha plana

Na estrada, o passo impresso
No percurso vou (con vexo).

Raso é e raso, fundo é fundo
No viver, entorto o mundo
E não acho o meu lugar...


Patos de Minas, 08 de Janeiro de 2008

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009


A flor

Ana Graziela Cabral

Um dia o sol nasceu oblíquo
Tempo de chegar...

Meu verde ficou cinza
Meu céu mudou de cor

E a flor, a flor não estava lá...

Mas procurei noutro lugar
Por trás do vento...
Sob as cinzas

A flor, a flor não estava lá...

Pequei a pena, a folha fina
Sentei serena ao luar
Atrás do cinza do grafite

Achei a flor, estava lá...

Patos de Minas, 07 de janeiro de 2008


No tempo de partir

Ana Graziela Cabral

No tempo de partir senti saudade
Senti conforto no tempo de partir

No tempo de partir senti silêncio
Disse adeus no tempo de partir

No tempo de partir senti tristeza
De alegria sorri, sorri...

No tempo de partir.


Patos de Minas, 07 de janeiro de 2008.
Sonhar

Ana Graziela Cabral


Sonhar que o vento arrasta o tempo
E o temor afasta a morte
E o clamor atrai a sorte

Sonhar que a calma acalma a alma
E que escrever preenche a falta
E que chorar reduz o trauma

Sonhar que a chuva será breve
Que o inverno será leve
Mas sonhar, sempre sonhar...

Patos de Minas, 07 de janeiro de 2008 (CPD UNIPAM, Despedida)